Muito provavelmente, o bebé vai nascer no hospital, num local que se chama
... " Bloco de Partos".... ou "Bloco Operatório de Obstetrìcia"...
Nesta área "intervimos" no sentido de promover a relação com o feto durante o
trabalho de parto,
e depois nas primeiras 2 horas de vida do recém-nascido.
Sou Enfermeira Espacialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia
( e enquanto elemento duma equipa prestadora de cuidados
especializados em meio hospitalar),
confrontamo-nos com os
sentimentos e expectativas do casal em trabalho de parto:
1. Medo da dor
2. Medo da solidão
3. Medo de que o parto corra mal
4. Medo do bebé vir com imperfeições não identificadas durante a gravidez
ou resultantes dum parto traumático.
Sabemos que
em maior ou menor grau,
toda esta “combustão” de medos,
sensações
de dor e sentimentos num parto,
pode ser vivida como
uma experiência extremamente
Sabemos ainda que em maior ou menor grau,
toda esta “combustão” de medos imprime
importantes repercussões emocionais
sobre a mulher,
e podem vir a afectar a relação com o recém-nascido.
Consequentemente, podem induzir a um comportamento materno "menos adequado".
MACFARLANE e KITZINGUER (1995, 136) referem que
“a forma como o parto é conduzido e as pessoas presentes, têm uma
grande influênciana maneira como a mãe recebe o recém-nascido”,
já que “ o parto não pode ser simplesmente uma questão de técnicas
para tirar
um bebé do corpo de alguém.
na ordem das coisas” KITZINGUER 1995, 33
Partimos assim do princípio de que a mulher que tem um filho nas melhores condições
biológicas e emocionais, tem à partida asseguradas as melhores possibilidades para que
o contacto com o seu filho no pós-parto imediato decorra de um modo
tão tranquilo como perfeito,
sendo uma das garantias da génese da vinculação.
Quando cuidamos da mãe em Trabalho de Parto, temos como objectivo
“AJUDÁ-LA A AJUDAR-SE A SI PRÓPRIA”.
Muito sumariamente, utilizamos
1. A visualização
2. Técnicas de relaxamento
(que tendo sido exercitadas previamente
em cursos de preparação
para o parto, a sua utilização será mais facilitada)
3. Posicionamentos facilitadores
4. Formas de toque terapêutico
Acreditamos que quando apoiamos física e emocionalmente a mãe, o nível de
catecolaminas reduz-se bastante, bem como a adrenalina e a noradrenalina,
o que ajuda o parto a progredir normalmente,
tornando-o menos cansativo e menos demorado.
Sendo mais curto, há menos intervenções, menos occitocina,
e também menos necessidade
de utilizar fórceps ou epidural, porque um parto nestas condições
decorre de uma forma muito mais ritmada.
Esta apoio e confiança fazem a mãe sentir que tudo está a correr normalmente.
Mas o nosso trabalho é também pedagógico:
AJUDAMOS O PAI A AJUDAR A MÃE,
o que quer dizer que o pai não é de forma alguma excluído
deste quadro.
Apesar de nos confrontarmos com algumas
dificuldades arquitetónicas ... ,
na nossa maternidade
(o Bloco de Partos do Hospital de Santarém),
temos trabalhado no sentido de:
1- OPTIMIZAR O AMBIENTE FÍSICO de forma a torná-lo mais acolhedor.
· O uso de música ambiente que propicie uma maior intimidade
durante o periodo da dilatação
· O incentivo dado à mãe para que “fale com a barriga” durante esta fase,
tratando o seu bébé pelo nome
· A linguagem utilizada também está tendencialmente a mudar.
Expressões como
“vamos convidar este bébé a nascer...” ou
“....vem bébé, que a mãe está cheia de saudades tuas...”
são cada vez mais utilizadas pelas enfermeiras
(e cada vez mais se ouvem nos restantes elementos da equipa).
2- OBSERVAR O ESTADO EMOCIONAL DA MULHER, reforçando
positivamente o seu desempenho.
Temos a preocupação de interpretar as crenças culturais, porque consideramos
que, pelo facto de estarmos atentos às diferenças culturais, todas as medidas
de orientação, ajuda e conforto,
assim como toda a informação dada e assistência oferecida, irá ao encontro das
reais necessidades da parturiente naquele momento.
Ou seja: fortalecemos os alicerces para a
participação activa e consciente da
mulher e para um parto nas melhores condições psicológicas.
Logo após o nascimento,
surge o que alguns autores referem como “ o elo do silêncio”.
Este ser – o bébé – pequeno, vulnerável, sem fala,
tem uma capacidade deslumbrante
de potencial: ainda que de aparência frágil, na realidade sobreviveu
a uma grande provação!
Concluiu uma viagem que causou a compressão do seu crâneo,
cortou-lhe a sua fonte
de vida
e separou-o da única fonte de sobrevivência conhecida:
a sua mãe.
Sobreviveu ao seu próprio nascimento e
é destinado a ser um membro adulto
da espécie viva mais inteligente à face da Terra.
Agora, como durante o 1º ano de vida da sua existência,
esta criança estaráocupada a
tratar dos alicerces para a vida,
na companhia dos que o cuidam.
Esta é a sobrevivência da nossa espécie, o nosso futuro,
a nossa imortalidade
através da continuidade dos nossos genes.
Este “ elo de silêncio”,
vem frequentemente precedido por parte da mãe,
duma explosão de alegria e choro simultâneos,
ao qual se junta o 1º choro do bébé acabado de nascer.
O posicionar o RN sobre o abdómen materno, tem
como fundamento o facto
de “ o tacto ser a 1ª e mais importante
zona de comunicação entre a mãe e o próprio filho
...funciona simultaneamente para acalmar, alertar e despertar”
BRAZELTON, 2001, 79
Motivamos a mãe para o contacto visual,
a estimulação táctil e auditiva
com o RN, pois os “RN movem-se ao ritmo da fala das suas mães”
BURROUGHS, 1995, 250
Até lá,
pensem no seguinte:
- como imagino o nascimento do meu bebé?
- o que gostaria que acontecesse?
- como o posso convidar a vir para o meu colo?
- como me posso preparar?
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